sábado, 28 de novembro de 2009

O Perdão...

Nada me irrita mais do que não conseguir realizar o que desejo. Estou extremamente irritada com minha falta de paciência, de objetividade, com os meus excessos de ansiedade. Quero muito fazer isso, mas parece que devo aceitar passivamente em apenas permanecer na vontade. Que droga!! Como é frustrante ter que me conformar com a idéia. Aqui estou eu, mais uma vez detida na inércia do meu pensamento. Tento desesperadamente lutar contra isso, mas a lentidão que me atinge é mais forte do que eu neste instante. Dar o primeiro passo é para mim, como aprender a andar. Sei que devo ter mais atitude, mais determinação, mais personalidade. Sim! Preciso disso! Por favor, garçom me dê mais uma dose de mim. Dose dupla! Quem sabe assim, consigo levantar-me desse frenesi que teima em não aquietar a alma.
Nesta ânsia de fazer o que é certo pra mim, de ir ao encontro dos meus valores, levanto-me! Bem, é hora de deixar as inquietações de lado, jogar fora as coisas que não acrescentam nada para mim, cuspir em cima do medo e acordar dessa letargia, dessa apatia. Confesso que não é assim tão simples. Quisera eu que pudesse ser vendido em qualquer esquina. Talvez por ser tão difícil se torne algo de extrema importância na convivência humana. Ahhh como eu gostaria que ele viesse embrulhado em um pacotinho, simples de ser aberto e descoberto. O que me aflige é que para que isso venha à tona, ou seja, a minha essência, eu devo me libertar. Devo passar por cima do meu orgulho, tirar a minha máscara e me encontrar. Após ter me despido de tudo aquilo que antes me vestia, estou pronta para dar. Assim sendo eu quero e necessito faze-lo: então será que você poderia aceitar o meu pedido de PERDÃO?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Sofá Amarelo

Hoje entrei em um antiquário. Nunca imaginei como poderia encontrar tantos “tesouros” por trás daqueles móveis usados. Nunca na verdade imaginei que poderia descobrir tanto de mim em um lugar como este. Não que já não estivesse estado em outros, mas hoje era diferente. Tudo estava diferente... Eu estava diferente.
Olhando cuidadosamente ao meu redor, olhei para todas aquelas ‘quinquilharias' espalhadas pela lojinha. Deparei-me com aquele sofá de dois lugares, talhado em madeira trabalhada escura e com o estofado em amarelo. Fiquei por alguns minutos ali observando aquele objeto. Devo ter despertado a curiosidade da vendedora que alegremente, me tirou daquele devaneio me perguntando se havia gostado. Pra mim, na verdade, eu não tinha resposta para a pergunta. Apenas estava ali, como uma estátua idiota, enquanto dentro de mim um turbilhão me assolava. Parecendo entender o que se passava comigo a vendedora foi me explicando a origem daquele sofá. Ele já estava na loja havia algum tempo. Ninguém ousara comprá-lo, embora fosse muito bonito. Questionei-me por que. Outra vez não precisei formular a pergunta, pois a vendedora logo me metralhou com as informações que eu queria e não queria saber. O sofá datava-se da segunda guerra mundial. Fora um presente de um marido apaixonado para a esposa que se encantara pela peça antes do casamento. Infelizmente este homem falecera logo após, vítima de tuberculose. Por não suportar a dor que o objeto lhe trazia, a mulher o guardara longe dos olhos por toda a sua vida. Assim era a estória do sofá. Passado por gerações, ninguém verdadeiramente o quis o suficiente para colocá-lo no lugar que realmente pertencia: no coração de alguém.
Ali estava eu admirando cada vez mais aquele objeto, enquanto a moça narrava-me o sofrimento. Comparei-o com a vida.
Na verdade, muitas vezes fazemos isso. Jogamos para escanteio ou ignoramos ou ainda desprezamos algo que nos trás dor. É mais fácil fechar os olhos e fingir que não nos incomoda que não tem nada ali. Se isso é certo ou errado não sei, cabe a cada um tomar a sua decisão e conviver com ela. Quanto a mim, a cor berrante do amarelo me incomodava. Não a cor do objeto em si, mas porque o assimilei ao sinal de trânsito. AMARELO = CUIDADO!! Sim, quantas vezes ignoramos esse aviso. O que pode ser na maioria das vezes fatal. Voltando as minhas analogias, me encontrei vendo naquela matéria inanimada, um pouco da minha própria vida. Quantas vezes por medo de sofrer, por medo da rejeição, por medo de sentir medo, não me permiti ter a alegria de um presente de amor. Entendia perfeitamente os motivos da jovem esposa de não querer mais o objeto tão almejado, após a morte do amado. Mas havia também outra opção, talvez a mais difícil, ter que olhar o sofá todos os dias e imaginar o que poderia ter sido deve ser frustrante, mas também pode ser libertador. Essa opção só é viável para os corajosos. Aqueles que são capazes de correr riscos e viver a vida, encarando-a de frente. Atrevo-me a afirmar que poucos são capazes de tal ato.
Voltando ao sofá, desejei de coração que alguém algum dia entendesse o sentimento que aquela peça trazia consigo ao longo dos anos. Que alguém fosse sensível o suficiente para olhá-lo e enxergá-lo como um coração que foi humildemente ofertado e infelizmente ao longo do tempo, totalmente desprezado. Queria poder ser esta pessoa. Mas como as outras, estava também escondendo as minhas próprias marcas. Fortalecendo-me na mentira que eu era forte o suficiente para decidir não me arriscar a viver um sonho. Hoje é mais fácil pular de para-pente na pedra da Gávea, do que me arriscar no salto incerto de um sofá amarelo. Enfim, tudo aquilo que nos apresenta como dor, automaticamente ligamos o plug interno dentro de nós e nos fechamos. Talvez pelas marcas que o tempo deixa em nossas vidas e o modo como às enfrentamos, tira de nós um pouco da vontade, do desejo de se deixar levar pelos sentimentos, pelo coração. Ninguém nunca disse que amar é fácil. Muito pelo contrário. Amar é por diversas vezes tão difícil que nos questionamos se podemos não associá-lo com a dor. O que muitas vezes pode levar para longe de nós algo bonito, forte, sincero, capaz de balançar nossas estruturas. Algo que muitos de nós chamamos de FELICIDADE. (eu particularmente hoje o chamo de sofá amarelo).