domingo, 23 de agosto de 2009

Café sem açucar, Por favor

Esse texto foi escrito por uma pessoa q saiu da minha vida. Fez parte dela por quase 3 anos. Mas a vida é assim. Uns permanecem, outros partem. Essa pessoa partiu, foi viver a verdadeira vida, não a ilusão que um dia me apresentou. Posto esse texto por gratidão. Sem mais.


Hoje, no caminho para casa, ouvi uma velha conhecida na rádio. A música. Aquela.
A que cujo par martelava na minha cabeça, fazia barulho no telefone e batucada no meu peito.
Hoje ela não teve par. Estava sozinha. Em mim, no pensamento e no coração. Meus tímpanos a absorveram pura, límpida, heterogênea. Eu sabia que agora ela era apenas mais uma, apenas a próxima, a que recém tocou, a que ouço no agora. Sem ser especial. Sem ter significados.

E depois de tanto tempo, me senti livre.

Livre de não associá-la a mais nada. A ninguém. Mas, também senti um vazio. Uma "coisa" oca por dentro. Senti não sentir. Uma liberdade mais parecida com solidão. A música não tinha mais par, assim como eu. Éramos nós dois. Ambos cantando no ritmo; eu sabendo mais sobre ela do que ela de nós - antigamente parecia nos conhecer tão bem. Porém, não havia mais nós. Havia eu. E a cidade. E as pessoas. E as gargalhadas. E os planos. E os sonhos. E... é, reticências. Tanto destratei aquele par que ela abandonou a música. Injustiça? Não, ela fez o certo e eu achei que sabia o que fazia. Ainda era minha, de alguma forma. Ainda era dela, mas só eu sabia. Hoje descobri o que é esquecer. Descobri que esqueci. Que guardei tão abaixo de meus pés aquele sorriso, até que ela cavou uma passagem e encontrou seu novo repertório. Pode não ser o preferido ou o melhor que ja compôs, mas este ela sabe que não vai parar de tocar de repente, como o meu costumava fazer. E eu? Bem, eu continuo vivendo as ironias que derrapam no meu caminho, ouvindo as músicas que as estradas me oferecem, sem impôr poesia alguma a quem quer que seja. Não sei se aprendi algo. Encontrei tantos devaneios enquanto ele trilhava sua sorte sob meu reino de ilusões, que agora, só me resta trocar de pista. Não quero lembrar. Não quero esquecer. Quero não pensar. Um dia a música encontrará seu par, mas eu não a ouvirei. Não mais. Continuo tão conservador e frio quanto antes, só que, mais esperto e menos egoísta.

sábado, 8 de agosto de 2009

Desaprender


Hoje me deparei com este texto de Martha Medeiros e concluí que tudo o que estou sentindo neste momento se enquadrada neste contexto. Espero que gostem!! =)

"Desaprender a ser tão sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que encontramos no caminho.
Desaprender a ser tão exigente consigo mesmo, para poder se divertir com os próprios erros. Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente precisa saber lidar com o inusitado.
Desaprender a esperar que os outros leiam nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia, é melhor acreditar no poder da nossa voz.
Desaprender a autocomiseração: enquanto perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os demais seguiram em frente. A solução é voltar ao marco zero.
Desaprender para aprender. Desmanchar para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá para renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar”.

domingo, 2 de agosto de 2009

Clarice Lispector

"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma". Clarice.

O meu eu

Hoje não posso deixar de citá-la. Há em mim a controvérsia, a ambiguídade, a sensibilidade de Clarice Lispector. As palavras se escondem de mim. Tento senti-las, mas o que sinto é oco, é vazio. Queria poder encontrá-las para assim, começar a escrever algo que preste. Algo que valha a pena ser lido. Que situação em que me encontro!! Onde foi parar meu eu?? Onde foi parar o meu sentir?? Vasculho desesperadamente minha mente e nada. O que me sobra são as experiências... as lembranças... mas não o sentir. Novamente em desespero, tento procurar sentido nos sentimentos, no coração. Tudo em vão!! O coração está estilhaçado por um amor qualquer. Foi pisado, machucado e agora encontra-se quebrado. Não há no coração a emoção, o sentido que havia. Este orgão que retém nossas verdades é um tolo!! Entrega-se ao primeiro que aparece dizendo que ama, sem amar, que volta sem ao menos se entregar-se. Quanta ilusão!! Ops... ilusão?? É isso que esse tolo está dizendo?? Não... apenas ecos de lembranças!! No lugar deste coração já não há mais lugar para os sentidos. Então, onde estou eu?? Enfrento-me, confronto com meu eu, olho na cara dele com raiva por me deixar assim... morta!! Sem sentimentos, palavras. Acredito que sou mais parecida com um fantasma, do que com meu reflexo no espelho.
Ahhh onde estou?? Olhando fundo em mim, encarando-me de frente, vejo que meu eu silenciosamente grita: Estou aqui!!! Mas não me exergas por causa da inércia que te envolve. Tolices você já fez muitas, mas não termine com aquilo que és, não permita que se faça pedra. Ou vai acabar em outro vazio... o vazio da dor.
Então eu sentei e escutei. Encontrei minha alma e saí caminhando novamente.